8 de maio de 2010

O SERTANEJO

Resumo

Nos primeiros capítulos da obra “O sertanejo”, o narrador, em terceira pessoa, nos apresenta a paisagem local, em seguida , aparece o herói da trama, o jovem Arnaldo, rapaz de “vinte e um anos, rosto queimado pelo sol , um buço negro como os compridos cabelos que anelavam-se pelo pescoço” ( p.12). Como um cavaleiro dos tempos medievais, ele é um homem forte de corpo e alma, temente a Deus e a seu patrão, o Capitão mor Gonçalo Pires Campelo, e adora sua meia irmã, Flor, companheira de folguedos, como um anjo ou como a própria virgem Maria.
A narrativa inicia em 1764, em Quixeramobim, Ceará, com a descrição de um comboio do capitão mor e sua mulher D. Genoveva, retornando à fazenda “ Oiticica”, depois de uma temporada em Recife, onde conheceram Marcos Fragoso, jovem que ficou interessado em Flor.
Flor estava um pouco afastada do grupo no retorno à fazenda, observa que um incêndio alastra-se pela floresta, fica apavorada e desmaia. Neste momento, aparece Arnaldo que a socorre. Chegando em casa, já acordada do susto, ela não sabe explicar quem a salvou .O capitão Gonçalo manda seus empregados descobrirem quem foi o culpado pelo incêndio. A culpa cai sobre Jó, um velho solitário, que vivia numa cabana próximo à fazenda. O fogo começou perto da moradia dele, mas Arnaldo, sabendo quem foi o verdadeiro culpado, esconde o velho numa caverna para que o capitão não o encontre.Vai atrás de Aleixo Vargas, conhecido como Moirão, para prestar contas do ocorrido. Aleixo explica ao sertanejo os motivos que o fizeram tomar esta atitude, diz que Gonçalo o humilhou e como forma de vingar-se dele resolveu ocasionar o incêndio. Aleixo é proibido de pôr os pés na fazenda, caso desobedecesse, pagaria com a própria vida, alertou o sertanejo.
Flor vai até a casa de Justa, mãe de Arnaldo, e entrega-lhe um rosário de presente. Durante a conversa delas, o leitor percebe o mistério que envolve Arnaldo. No mesmo dia que ele nasceu, aparece um relicário vermelho em seu pescoço e Justa não sabe quem o colocou.Daí passa a acreditar que o filho está protegido de todos os perigos. Realmente o sertanejo não teme nada , nem a ninguém, pois enfrenta todos os perigos, inclusive um tigre que aparece na fazenda causando medo em todos, menos nele, que puxou a fera pela orelha. Entretanto, Arnaldo tem um comportamento indomável,pois não obedece a seu patrão. Numa conversa entre eles, declara que não está nos seus planos o casamento, sua vontade é estar sempre ao serviço de Gonçalo e sua família , o capitão não esconde sua irritação, pois havia adotado Alina para ser a futura esposa de Arnaldo.
Aparece um futuro pretendente para Flor. Trata-se de Marcos Fragoso, moço que veio de Recife e mora na fazenda vizinha. De passagem com seus empregados pela Oiticica, Marcos inclina-se cortejando Flor com o chapéu. Arnaldo observa tudo e quando a cavalgada vai embora, sente uma profunda tristeza como nunca sentira, pois começa a ver a presença de um suposto rival. O desejo do sertanejo de ter Flor somente para ele começa a desabar e declara firmemente: “Flor não pertencerá a nenhum homem na terra .Ainda que seja à custa da minha salvação eterna. (p.84) .Triste, desabafa com o velho Jó o motivo da tristeza: - Quiseram roubar-me o que mais amo neste mundo.(p.86) . Fazendo referência a uma mulher, no caso, Flor.
Desaparece da fazenda a Bonina, a novilha preferida de Flor, Arnaldo traz o animal de volta e a moça agradecida dá uma bolsa para ele, contudo, ele dá pouca importância ao presente e atira ao fogo , depois fala de forma ríspida: - Pague aos seus criados! (p.106).Ela vai embora dizendo que ele não merecia o presente.

Segunda parte

Marcos Fragoso procurando cada vez mais aproximar-se de sua pretendida, convida Gonçalo para uma montaria. Na conversa com o primo, Fragoso confessa que não será fácil o capitão conceder a mão de Flor, visto que é um homem arrogante e autoritário. Dourado, um boi famoso nos arredores pela dificuldade de domá-lo, é o centro da conversa entre os vaqueiros,pois nem o mais famoso campeador Louredo, pai de Arnaldo, conseguiu esta proeza. A fim de se exibir para os convidados Marcos Fragoso, muito orgulhoso, diz que pegará o boi para oferecê-lo no almoço, no entanto, o único que consegue esta façanha é Arnaldo.Quando esteve de cara com Dourado, resolveu não matá-lo, mas o marcou com ferro que pertencia a Flor, para que ficasse registrado seu ato heróico.
Marcos combina com seu empregado, Luís Onofre,um plano para seqüestrar Flor, caso o capitão não conceda a mão dela Ao realizar o desejado pedido, o capitão responde: - O capitão –mor só tem uma palavra. Disse não, é não.
E Marcos retribui : - Pois saiba Vossa Senhoria que eu , Marcos Fragoso, também só tenho uma vontade e irrevogável. Jurei que sua filha seria minha mulher e com o favor de Deus , ela há de sê-lo. ( p.151)
Arnaldo sabendo dos planos de Fragoso, pede ajuda ao velho Jó para livrar Flor da armadilha. Chegando ao local onde Onofre e sua comitiva estavam, espera o momento de entrar em ação.Os encontra adormecidos, pois Jô pôs uma mistura de ervas na bebida deles.Ele os amarra para impedir que escapem e assim o plano de Fragoso não teve sucesso.
No capítulo X, ainda da segunda parte, há o recurso da flashback,ou seja, a volta ao passado, para que o leitor saiba como foi a convivência durante a infância e adolescência de Arnaldo e Flor. Criados como irmãos, junto com mais dois jovens : Jaime, sobrinho do capitão e Alina, moça pobre e órfã.Quando relembra esta fase da sua vida ao lado de Arnaldo, Flor interroga-se acerca dos seus sentimentos, pois ela, filha do capitão não podia se envolver com um agregado da fazenda: “ Arnaldo a seguira com os olhos cheios d’alma. A donzela ao voltar-se o avistara, mas desviou dele a vista, sem a menor perturbação ou sobressalto, com uma indiferença plácida e fria, que transpassou o coração do sertanejo. (p.184)
O capitão prevendo as possíveis ações de Marcos Fragoso para ficar com Flor, arranja um noivo para ela. O escolhido foi Leandro Barbalho, sobrinho do capitão. Flor concorda com a decisão paterna O capitão escreve uma carta ao sobrinho pedindo que ele compareça o mais rápido possível à fazenda.
Chegaram à Oiticica, dois viajantes, uma dama a cavalo, acompanhada de um velho a pé. Os dois se apresentam ao capitão- mor e pedem hospedagem. A mulher chamava-se Águeda, disse que era viúva e seu marido fora assassinado por defender o capitão das maledicências.Depois de ser acolhida na casa de Campelo, Águeda se insinua para Arnaldo, percebe também o interesse dele pela filha do patrão. Convida-o para ir ao seus aposentos, quando ele entra , não perde tempo e tenta conseguir um beijo dele,Tomado de terror, ele a repele e sai do quarto.Na verdade os planos de Águeda são outros, seu verdadeiro nome é Rosinha. Veio a serviço de Marcos Fragoso para seqüestrar Flor. Graças a vigilância atenta de Arnaldo, o plano falhou.
Marcos Fragoso, numa última tentativa “amigável”, envia uma carta ao capitão , mantendo o mesmo pedido de casamento, a resposta permaneceu negativa Furioso com a situação, Marcos pretende invadir a fazenda Oiticica e levar a moça a força. Já havia chegado Leandro Barbalho, que veio para conhecer a noiva e fazer a vontade do tio.Arnaldo não simpatiza com ele , mas sabe que Barbalho não ama Flor . Ele , Jó e alguns índios se preparam para defender o capitão e sua família.Padre Teles dá início a cerimônia. Marcos ataca com seus homens, mas não contava que o capitão tivesse a ajuda dos índios. Leandro é atingido por uma flecha, que possivelmente foi lançada por Jó, a pedido de Arnaldo.O combate aumenta, mas Marcos, vendo que não ia conseguir o que pretendia, sai em retirada.
O capitão satisfeito com a harmonia restaurada na sua casa.Dá ao sertanejo o direito de usar seu sobrenome e ainda acrescenta que concederá qualquer pedido que o vaqueiro quiser.O leitor, é claro, pensa que ele pedirá a mão da mulher que ama em casamento, no entanto, ele pede a mão de Alina para Agrela, capataz da fazenda que ajudou na luta contra o Fragoso.
Depois disso, Flor fica muito triste pois passa a acreditar que Deus não quer que ela case com ninguém. Já Arnaldo fica contente porque continuará sendo seu herói e eterno admirador.
Na conclusão o narrador deixa o leitor com muitos questionamentos, entre eles qual o fim de Leandro Barbalho, já que não encontraram o corpo dele? E o que realmente Flor sente por Arnaldo? O velho Jó e o mistério acerca do seu passado , como assim vemos no desfecho: “ E aqui termina a história a que dei o título O sertanejo. O mistério que envolve o passado de Jô só depois veio a revelar-se e como esses acontecimentos, prendem-se intimamente a vida de Arnaldo, guardo-me para referi-los mais tarde, quando escrever o fim do destemido sertanejo, cujas proezas foram por muitos anos, naqueles gerais, o entretenimento dos vaqueiros nos longos serões passados ao relento, durante as noites de inverno”. (p.232)

Atividade

1-A obra o sertanejo pertence a qual escola literária ?
A) Modernismo
b) Realismo
c) Naturalismo
d) Romantismo

2-O personagem principal da trama é:
a) Agrela
b ) Jó
c) Manuel Canho
d) Arnaldo Campelo

3- Qual a classificação deste romance ?
A) Indianista
B) histórico
c) regionalista
d) Urbano

4- Além de José de Alencar , marque outros autores que fizeram parte da mesma escola literária que o autor deste romance:

a) Domingos Olímpio e Adolfo Caminha
b) Graciliano Ramos e Jorge Amado
c) Francklin Távora e Bernardo Gumarães
d) Joaquim Manuel de Macedo e Machado de Assis.

5- Que características da escola literária não encontramos na obra O sertanejo:

A) idealização da mulher .
B) Culto à natureza
C) A religiosidade
D) O determinismo

6- leia o trecho abaixo:

“Então o sertanejo, que não se animaria nunca a tocar esses cabelos e essa cútis, beijou as grades para colher aquela emanação de D. Flor, e não trocaria decerto a delícia daquela adoração pelas voluptuosas carícias da mulher mais formosa. Aplicando o ouvido percebeu o sertanejo no interior do aposento um frolico de roupas, acompanhado pelo rumor de um passo breve e sutil. D. Flor volvia pelo aposento. Naturalmente ocupada nos vários aprestos do repouso da noite. Um doce sussurro,como da abelha ao seio do rosal, advertiu a Arnaldo que a donzela rezava antes de deitar-se e involuntariamente também ajoelhou-se para rogar a Deus por ela.

Que característica do Romantismo observa-se no trecho acima?


Apresente os personagens da obra O sertanejo:

D. Genoveva _________________________
Justa _________________________
Marcos Fragoso ________________________________
Leandro Barbalho _____________________________
Alina ________________________________________
Gonçalo Campelo ___________________________________


O MISSIONÁRIO

RESUMO

Inglês de Sousa

CAPÍTULO I

A narrativa começa com a chegada do Padre Antônio de Morais ao pequeno povoado de Silves, no Pará. Ali é recepcionado pelo sacristão Macário (Macário de Miranda Vale), um janota, um boa vida que fora criado pelo antigo pároco da localidade, o Padre José, um homem mulherengo e dissoluto, “um pândego! que passava meses nos lagos, tocando violão e namorando as mulatas e as caboclas dos arredores, e gastava em bons-bocados as missas, os enterros e os batizados da freguesia”. Macário, quando criança, foi retirado de seus pais, uma lavadeira amigada de um sargento que o agredia. E foi levado de Manaus para Silves sob os cuidados do Padre José.

CAPÍTULO II
O novo pároco, “com muita cerimônia, e na intenção de informar a S. Rev.ma, em poucas palavras, das distintas qualidades daqueles cavaleiros” (observe-se a ironia), foi apresentado ao moradores da vila:

“— O tenente Valadão, subdelegado de polícia, muito boa pessoa, incapaz de matar um carapanã.
— O senhor capitão Manoel Mendes da Fonseca, coletor das rendas gerais e provinciais, negociante importante, traz aviamentos de contos de réis.
— O senhor presidente da Câmara, alferes José Pedreira das Neves Barriga, que alugou a casa a S. Rev.ma.
— O escrivão da coletoria, Sr. José Antônio Pereira, moço de muito bons costumes.
— O senhor vereador João Carlos, íntimo do senhor capitão Fonseca.
— O Sr. Aníbal Americano Selvagem Brasileiro, professor régio, inteligente e sério.
— O Sr. Joaquim da Costa e Silva, que tem uma boa loja à rua do Porto, e faz o comércio de regatão, mais por divertimento do que por necessidade.
— O Sr. Antônio Regalado, o Sr. Francisco Ferreira, uma chusma, de que se destacava um sujeito de cara redonda.
— O Sr. Pedro Guimarães, eleitor. O povo o chama “o Mapa-Múndi.”

Após as apresentações e cortesias sociais, quando ficou só, Padre Antônio relembra seu passado, no sítio das Laranjeiras, onde o pai, um homem rude e mulherengo, “o capitão Pedro Ribeiro de Morais, pequeno fazendeiro de Igarapé-mirim”, o deixou “crescer a seu gosto, sem cuidar um só instante em o instruir e educar”, tendo sido a mãe, D. Brasília, que lhe ensinou as primeiras leituras, “sempre às escondidas do marido, que não gostava que aperreassem a criança”. O jovem foi enviado ao seminário por força do padrinho para receber uma educação conveniente.
Relembra ainda sua vida de seminarista. Era um jovem de comportamento arredio, que se indispôs com os colegas de classe. Por isso, opta por isolar-se, mas demonstra muita inteligência e impetuosidade, ao ponto de debater questões filosóficas e teológicas de nível elevado com o professor, o afamado padre Azevedo, o maior teólogo do Grão-Pará. Essas discussões acalouradas resultaram em castigo para o seminarista rebelde por defender heresias. Após as punições do reitor, Antônio de Moraes acabou voltando para o seio da ortodoxia católica. Foi uma crise que, apesar de passageira, repetir-se-á ao longo do enredo, um recorrência do espírito agitado do jovem sertanejo.

CAPÍTULO III
Mas, na vila de Silves, nem tudo era reverência e admiração para o padre recém-chegado. Ali ele tem um inimigo feroz, inteligente e sarcástico. Trata-se do professor de latim Francisco Fidêncio Nunes, um inimigo declarado de padres e bispos. Chico Fidêncio era o correspondente do jornal ODemocrata, “órgão público, noticioso, comercial, científico e independente “ de Manaus.
Contraditoriamente, apesar de anticlerical e maçom, era irmão do santíssimo e fazia questão de acompanhar as procissões católicas da vila. Vivia amigado com sua caseira, a Maria Miquelina. Chico Fidêncio, um literato bem instruído, era natural do Rio de Janeiro. Passou por vários empregos até assumir uma cátedra no magistério de Belém. Porém perdeu o emprego público por ocasião da questão religiosa do Império, por ser maçom. Um amigo, o comerciante português Filipe do Ver-o-peso, foi quem lhe arranjou o emprego de mestre-escola em Silves, onde se acomodou à vida pacata do lugar.
Foi a escrita ferina de Chico Fidêncio, com seus artigos panfletários e caluniosos, que desmoralizou o falecido vigário Padre José, acusando-o de mulherengo, dissoluto e gastador dos recursos da igreja. Este, por sua vez, contra-atacava, acusando Chico Fidêncio de gatuno e de ter pecado “contra a natureza”.
Agora, o grande problema de Chico Fidêncio, o Voltaire de Silves, era não conseguir encontrar uma mácula, um deslize moral, no comportamento de Padre Antônio de Morais, um pároco impoluto e exemplar. “O tal padrezinho ou é um santo ou um refinadíssimo hipócrita.”, pensava.

CAPITULO IV
Em época de colheita de castanhas, “que naquele ano estava dando um dinheirão”, a maioria dos moradores de Silves abandonava a vila e embrenhava-se no mato para colher a preciosa mercadoria.
Tal movimento migratório em busca de riqueza era incentivado pelo liberal Francisco Fidêncio, o jornalista anticlerical. Já o Padre Antônio de Moraes começava a ficar preocupado com esse êxodo geral do povo, pois isso representava um abandono da fé. Mas o coletor local, o capitão Fonseca, dizia que “a religião não produz castanhas, e sem castanhas não há impostos”.
Para lutar contra a indiferença religiosa, Padre Antônio de Moraes planeja, junto com Macário, um belo discurso durante a missa dominical que iria celebrar o casamento do Cazuza Bernardino com a sobrinha do Neves Barriga, presidente da Câmara Municipal.
Foi aí que o...
“padre Antônio de Morais... trovejou contra a falta de devoção do povo de Silves, condenando, numa eloqüência cálida e correta, o amor do lucro que o levava a abandonar pelos negócios o caminho da salvação, em tão boa hora começado, e desfiou um longo rosário de argumentos colhidos em Doutores da Igreja. Levantando o gesto, e dando à voz entoações lúgubres, carregando os supercílios e apertando os olhos, os belos olhos pretos, para não ver o quadro horrendo que descrevia aos ouvintes atônitos e surpresos, fez uma pintura viva e colorida das torturas preparadas na outra vida para os que nesta se descuidam de Deus por amor do mundo. S. Rev.ma mostrou nada haver de mais contrário ao ensinamento cristão, às eternas verdades da Lei, do que essa ardente preocupação pelos bens terrenos que levava as suas ovelhas queridas a abandonarem o serviço do Senhor, para irem, na sôfrega ambição de ganhar dinheiro, perverter a alma no ermo dos castanhais, onde todos os anos se reproduziam cenas muito pouco dignas de gente católica, apostólica e romana.”
As pessoas que estavam na missa ficaram pasmas de medo. “O povo ficou transido de susto, ao ouvir falar de repente na escura e misteriosa região em que não penetra a esperança”. O discurso do Padre foi um sucesso.
Após o discurso moralizante e aterrorizador do Padre Antônio de Moraes, todos se dirigiram para a festa de casamento, que estava animada e tinha fartura. Ali começou um namoro entre o Totônio Bernardino, filho do patrono da festa, e a Milu, a sobrinha do Neves Barriga. Esse amor avassalador e repentino entre os dois adolescentes não foi aceito pelo pai do jovem, Bernardino Santana, e acabou em tragédia com a morte prematura de Totônio, que “faleceu de amor”, numa alusão crítica ao Romantismo. A comilança desenfreada dos convidados dos noivos também é objeto de crítica irônica do narrador.

CAPITULO V
Chico Fidêncio, fiel à sua ideologia anticlerical, não dava trégua ao novo pároco. Por isso, ao tomar conhecimento, através do jornal Baixo Amazonas, de Santarém, de que “índios mundurucus ferozes atacaram a pequena povoação de S. Tomé, incendiando as casas, e matando muitos moradores”, desafiou o Padre Antônio a catequizá-los.
Avaliando sua vida monótona e medíocre de pároco de interior, o reverendo de Silves começou a pensar seriamente no desafio do anti-religioso Chico Fidêncio.

CAPITULO VI
Após uma longa noite de sono, Padre Antônio, depois de meditar muito, decidiu pela catequese dos selvagens mundurucus, aceitando, com orgulho evangélico, o desafio zombeteiro do “ateu” Chico Fidêncio.
“— Sabes que estou decidido a fazer uma missão ao porto dos Mundurucus?”, disse para o sacristão Macário, que ficou desconsolado, pois essa resolução sublime representava o fim de sua vida mesquinha de bonança e regalias. S. Rev.ma estava decidido a “converter os selvagens, trazê-los ao seio da religião católica, e ao mesmo tempo libertar o Amazonas dessa terrível praga de índios bravos que lhe entorpecia o progresso”. E sonhou ainda com as glórias junto ao alto clero de Belém pelo desprendimento católico e pelo feito magnífico da catequese de selvagens. Essa empresa evangelizadora o colocaria à altura de um Francisco Xavier e de um José de Anchieta.
Numa passagem de magnífico humor, neste capítulo, o autor, Inglês de Sousa, relata o “maquiavelismo” do sacristão Macário para obstruir o empreendimento evangélico do Padre Antônio de Moraes:
“— Patrício, você quer levar o senhor vigário ao porto dos Mundurucus?
— Uai! onde é isso?
— O porto dos Mundurucus é lá no fim do mundo, nem eu mesmo sei, explicava Macário. É lá uma coisa que se meteu na cabeça do senhor vigário. Quer ir por força à terra dos gentios que comem gente, para servir a Nosso Senhor Jesus Cristo!
O tapuio que isso ouvia, dava de andar para longe, silenciosa e apressadamente, receando que o obrigassem a pegar no remo. E Macário, mostrando muito desânimo, ia dizer ao vigário:
— Saberá V. Rev.ma que não é possível obter remeiros.”
Ainda neste capítulo, assenta-se uma crítica ao amor romântico do personagem Totônio Bernardino, que, vivendo uma paixão impossível (pela Milu), quer morrer pela religião, levando o padre e o sacristão ao encontro dos índios selvagens, uma vez que ele, Totônio, não pode morrer pela pátria, numa guerra nacional, nem tem coragem de morrer de amor (numa alusão à moda suicida do Romantismo, ainda em voga quando da publicação da obra, 1888).

CAPITULO VII
Por fim, apesar dos obstáculos e tramas de Macário para retardar os sonhos evangelizados de Padre Antônio de Moraes, eles partem numa igarité (canoa) para catequizar os selvagens mundurucus. Durante a viagem, o reverendo lembra-se com saudade de sua ida para o seminário, anos atrás, deixando a “vida livre de campônio desocupado” na fazenda dos pais.
Macário arranjara dois rapazes do Urubus, um arraial vizinho: Pedro, o mais velho, e João, o mais magro, escondendo deles o destino da viagem, “dizendo que se tratava de ir à boca do Guaranatuba”. Os remadores não sabiam que estavam a caminho do Porto dos Mundurucus, os índios selvagens que devoravam seres humanos.
Macário contava com a desistência de Padre Antônio de Moraes, quando começassem os inconvenientes e sofrimentos de uma viagem tão longa e perigosa. Caso contrário, o sacristão lançaria mão de seu providencial “maquiavelismo” dizendo para os remadores:“ — Vamos, rapazes, remem!
Pouco nos falta para chegarmos ao porto dos Mundurucus. E devemos lá chegar quanto antes. Quem sabe se algum cristão não está lá à nossa espera para o salvarmos de ser comido pelos gentios?”Já o Padre sonhava em martírios pela fé, almejando tornar-se um “Francisco Xavier das florestas amazônicas.” Os remadores percebem que a tripulação viajava rumo às aldeias mundurucus e pedem para atracarem num sítio próximo. Ali são recebidos por uma tapuia de nome Teresa, que lhes dá abrigo até que o marido, Guilherme, que estava ausente devido à salga do pirarucu no furo de Uraná, voltasse.
Durante a noite, os remadores fogem “na igarité de padre Antônio, levando-lhe a roupa, as previsões, tudo”. Mas Padre Antônio não desiste. Alucinado com a missão evangelizadora, que lhe traria muita honra e distinção apostólica junto ao alto clero na capital do Pará, compra da tapuia Teresa uma pequena canoa, recém calafetada, e dois remos e segue viagem com Macário. O sacristão, subserviente e covarde, resistiu inutilmente em prosseguir viagem tão arriscada e perigosa, mas em vão. A vontade do padre era-lhe superior.

CAPITULO VIII
Os dois seguiram rio Canumã acima. A paisagem do Amazonas era exuberante, chegando a embotar a razão dos dois remadores.
“Os sabiás, os corrupiões, os diversos trovadores das selvas amazônicas recolhiam-se à frescura do arvoredo para a modulação dos trenos amorosos no mistério das folhagens. Os macacos, preguiçosos e sonolentos, internavam-se no mato em busca de algum regato cristalino ou, saciados de castanhas, balançavam-se pachorrentamente em delgados cipós. As próprias ciganas arrastavam o grasnar desagradável, como vencidas do cansaço e do silêncio, que lhes não permitia a índole barulhenta e irrequieta. Os peixes tardavam em vir à tona da água, ou boiavam sem ruído, para não interromper a calada do dia. Era intenso o calor.”
Padre Antônio de Moraes continuava “delirantemente” decidido a prossseguir com sua grandiosa e sublime missão catequética. Já o Macário estava inconsolável. Resmungava. “Aquilo já passava de caçoada!” Queria rebelar-se, mas não tinha a força de caráter para tanto, pois era um acólito fraco e subserviente.
Com a chegada da noite, o barco parou numa ribanceira para os dois remadores dormirem, o que não conseguiram fazer por força de uma multidão de insetos (carapanãs, muriçocas e piuns) que lhes furava a pele e lhes chupava o sangue. Foi uma noite infernal. Macário estava enlouquecido de raiva.
Padre Antônio começava a duvidar da correção de sua empresa evangelizadora. “O calor ocasionado pelo afluxo do sangue ao rosto, o cansaço, a insônia forçada, o silêncio da noite e o cheiro sensual da floresta, trazido por uma brisa refrigerante, perturbando-lhe o cérebro desequilibrado, lançavam-no numa espécie de alienação mental, no puro subjetivismo dos mártires e dos loucos...!”
Pela manhã do dia seguinte, o padre e o sacristão voltaram a remar rio acima sob forte chuva, uma verdadeira tempestade. Veio a noite e novos terríveis sofrimentos desta vez sob um chuvisco persistente.
Pela manhã, avistaram um ubá (canoa), tripulada por três índios, subindo o rio na margem oposta. Padre Antônio gritou para eles: “— Bom-dia, patrícios!” Receberam em resposta flechadas. Eram mundurucus. Trataram de fugir e esconder-se num matagal próximo. De repente, apareceram dois índios rompendo o mato com facão...
Macário desapareceu em desabalada carreira.
Já o Padre Antônio...
“Padre Antônio caiu de joelhos sobre a relva ainda úmida das chuvas da véspera, e, juntando as mãos numa agonia, ergueu os olhos para o céu, num olhar em que pôs toda a sua alma, e aguardou silencioso o golpe que o devia prostrar para sempre.”

CAPITULO IX
Neste capítulo, a título de suspense, o autor retorna a narrativa para a vila de Silves, onde já se encontra o sacristão Macário, cuidando do rebanho de Padre Antônio de Moraes, na ausência deste.
Macário escapara da morte por ocasião do ataque, que ele pensava ser de índios mundurucus, saltando na canoa e remando até o sítio da tapuia Teresa, deixando o Padre Antônio de Moraes para trás.
“— Se ficasse éramos dois a morrer, morrer por morrer, morra meu pai que é mais velho; ou, por outra, morra padre Antônio que estava morto por isso.”
Só que a história que o sacristão contou para os moradores da vila Silves foi outra, bem diferente:
“Fugindo a um ubá selvagem, que os perseguira por duas horas, numa terrível porfia de remos, sob uma nuvem de flechas, tinham ido ele e o senhor vigário abrigar-se num mato cerrado, esperando que os gentios lhes perdessem a pista. Mal se tinham julgado a salvo dos índios do ubá, foram agredidos por um bando de parintintins; que ali se achavam, naturalmente para dar caça aos mundurucus do ubá. Logo ao primeiro golpe os parintintins atiraram ao chão o ardente missionário que se preparava para lhes fazer um discurso evangélico. Então ele, Macário, vendo o seu protetor e amigo, o arrimo da sua vida, o esteio da religião e da moral, banhado em sangue, perdera a noção do número e da força, e num esforço desesperado e louco — confessava-o — investira com os selvagens, armado de remo, e disposto a morrer, vingando o companheiro. Mas o gentio lá de si para si pensou que um homem tão valente como o Macário se mostrava não devia morrer sem as habituais cerimônias selvagens. Macário fora agarrado e amarrado a um castanheiro. Depois os índios retiraram-se muito alegres para o interior da floresta, levando em charola o corpo do missionário para lhe servir de prato de resistência nos seus horríveis festins noturnos. O sacristão ficara por muitas horas atado ao castanheiro, esperando a cada momento ser, como S. Sebastião, convertido em paliteiro, pelas flechas dos parintintins. Mas ao que lhe parecera, ao partirem aqueles selvagens levando o corpo de padre Antônio, avistaram os mundurucus do ubá, e trataram de os apanhar numa cilada, esquecendo o pobre prisioneiro branco. Ou seria outro o motivo da demora que permitira à Providência Divina, a rogo de Nossa Senhora do Carmo e do Senhor S. Macário, realizar em favor do sacristão de Silves um grande e verdadeiro milagre. A embira com que os índios lhe haviam amarrado os pés era muito verde. Uma cutia, que por ali passara, sentira o apetite aguçado pelo cheiro vegetal da fibra tirada de fresco, e a roera de tal sorte que com um pequeno esforço Macário pudera libertar os pés. Conseguira livrar depois as mãos, esfregando com força a embira na aresta duma pedra grande que ali estava, a modo que de propósito, e correra para o porto. Os mundurucus do ubá haviam passado, sem dar pela montaria oculta entre as canaranas. Macário tratara de navegar para o lago Canumã, com um grande pesar de não ter apanhado a cutia, que se fora embora, apenas concluída a tarefa de que parecia incumbida. Era ou não era uma obra asseada aquela história da guerra dos parintintins com os mundurucus e da cutia mandada por Nossa Senhora do Carmo?”
Macário, elevado à categoria de herói, administra agora os preparativos para o enterro do jovem Totônio Bernardino, que morreu de amor, numa explícita crítica ao Romantismo.
E agora Chico Fidêncio, crente na história inverídica de Macário, é um admirador do suposto falecido Padre Antônio de Moraes, sobre o qual escreve um artigo elogioso:
“Padre Antônio de Morais era um desses raros exemplos de abnegação e culto do Evangelho. Era um soldado da idéia (antiquada!) que soube morrer no seu posto, e que deve servir de modelo aos carcamanos que nos mandam de Roma.”
Já o capitão Manuel Mendes da Fonseca perde o rendoso cargo de coletor para seu substituto, o escrivão José Antônio Pereira, devido a uma trapaça administrativa deste que se aproveita da mudança de poder político no Pará, durante a questão religiosa. O poder saíra das mãos dos maçons para as mãos dos católicos. O capitão Mendes da Fonseca culpa também sua mulher, D. Cirila, que insistiu para que ele tirasse licença do cargo para a família ir para as praias apanhar castanhas, deixando, assim, o cargo nas mãos do substituto oportunista. “A vila retomara o seu aspecto normal.”

CAPITULO X
Enquanto o Macário vive as glórias do retorno milagroso à vila Silves, Padre Antônio de Moraes, no capítulo anterior, não fora atacado por selvagens mundurucus. Aqueles dois homens de facões às mãos eram João Pimenta, velho mundurucu convertido ao Catolicismo, e seu neto, Felisberto, moradores do sítio furo da Sapucaia, nos sertões do Guaranatuba, que procuravam pelo padre e pelo sacristão.
Padre Antônio perdera os sentido quando da abordagem dos dois sertanejos e fora levado para aquele local paradisíaco, o sítio furo da Sapucaia, refúgio do falecido padre João da Mata, que ali viveu maritalmente com a linda mameluca Benedita, com a qual teve uma filha de nome Clarinha, que também morava ali com o avô, João Pimenta, o Jiquitaia, e o irmão, Felisberto, que resgataram o padre.
Padre Antônio de Moraes, que a princípio repudiara a moça, apaixona-se por Clarinha, a bela sertaneja, filha do amor “pecaminoso” entre o Padre João da Mata e a mameluca Benedita.

CAPITULO XI
Padre Antônio de Moraes ainda pensava em catequizar os selvagens mundurucus. Mas um sentimento mais forte apodera-se de seu corpo e de sua alma: o amor por Clarinha, a bela mameluca que se entrega totalmente ao jovem padre idealista.
O missionário vive um conflito espiritual intenso e perturbador. Aqui, neste capítulo, as características do romance naturalista estão mais bem explicitadas:
“Sufocaria aquele insensato amor, aquela paixão criminosa, embora ela tivesse de reduzir-lhe o coração a cinzas. Morreria desesperado e louco, mas não ofenderia a pobre menina, confiante e carinhosa, falando-lhe dum sentimento que a moral e a religião repeliam, e que ela não poderia aceitar sem perder a alma pura e inocente. Entretanto, ao passo que assim pensava, uma agitação extrema o perturbava, como se tivesse diante de si um tesouro inapreciável a que bastasse estender a mão para o possuir. O vento de virtude que perpassara pelo seu cérebro exaltado abalara-o profundamente, e inconscientemente, sem saber o que fazia, torturado por uma angústia, começou a falar, doce e convincente, com uma tristeza infinita na voz, mal percebendo o efeito das suas palavras sobre a rapariga, que a princípio se voltara surpresa e, depois, se deixara ficar sentada na cama, ouvindo-o de olhos baixos, com os braços caídos, inertes, para o chão.”
Mas o missionário não resistiu. A sensualidade falou mais alto do que a razão religiosa. A carne do sertanejo foi mais fraca do que o espírito do clérigo. E então...
“Então ele, saindo de uma luta suprema, silencioso, com um frio mortal no coração, com o cérebro despedaçado por um turbilhão de sentimentos contrários, atirou-se à moça, agarrou-a pela cintura e mordeu-lhe o lábio inferior numa carícia brutal. Foi breve a luta. A neta de João Pimenta caiu exausta sobre o tapete de folhas úmidas do orvalho, douradas pelo sol. Entre os ramos dos cacaueiros os passarinhos sensuais cantavam.”

CAPITULO XII
Enquanto o Padre Antônio de Moraes vivia seu amor com Clarinha, a primeiro e única paixão de sua vida.
“Entregara-se, corpo e alma, à sedução da linda rapariga que lhe ocupara o coração. A sua natureza ardente e apaixonada, extremamente sensual, mal contida até então pela disciplina do Seminário e pelo ascetismo que lhe dera a crença na sua predestinação, quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido. Não seria filho de Pedro Ribeiro de Morais, o devasso fazendeiro do Igarapé-mirim, se o seu cérebro não fosse dominado por instintos egoísticos, que a privação de prazeres açulava e que uma educação superficial não soubera subjugar. E como os senhores padres do Seminário haviam pretendido destruir ou, ao menos, regular e conter a ação determinante da hereditariedade psico-fisiológica sobre o cérebro do seminarista? Dando-lhe uma grande cultura de espírito, mas sob um ponto de vista acanhado e restrito, que lhe excitara o instinto da própria conservação, o interesse individual, pondo-lhe diante dos olhos, como supremo bem, a salvação da alma, e como meio único, o cuidado dessa mesma salvação. Que acontecera? No momento dado, impotente o freio moral para conter a rebelião dos apetites, o instinto mais forte, o menos nobre, assenhoreara-se daquele temperamento de matuto, disfarçado em padre de S. Suplício.
Em outras circunstâncias, colocado em meio diverso, talvez que padre Antônio de Morais viesse a ser um santo, no sentido puramente católico da palavra, talvez que viesse a realizar a aspiração da sua mocidade, deslumbrando o mundo com o fulgor das suas virtudes ascéticas e dos seus sacrifícios inauditos. Mas nos sertões do Amazonas, numa sociedade quase rudimentar, sem moral, sem
educação... vivendo no meio da mais completa liberdade de costumes, sem a coação da opinião pública, sem a disciplina duma autoridade espiritual fortemente constituída... sem estímulos e sem apoio... devia cair na regra geral dos seus colegas de sacerdócio, sob a influência enervante e corruptora do isolamento, e entregara-se ao vício e à depravação, perdendo o senso moral e rebaixando-se ao nível dos indivíduos que fora chamado a dirigir.”
Nesse ínterim, Felisberto, irmão da moça, travara conversa no povoado de Maués com um comerciante de vila Silves, o Costa e Silva, o qual pensava estar morto o vigário de sua paróquia.
Felisberto assegurou-lhe o contrário. Padre Antônio estaria vivo. Esse colóquio entre o mameluco e o comerciante de Silves foi prontamente comunicado ao Padre.
Isso fez com que o missionário sonhasse com o retorno a sua paróquia de origem. A princípio, temeu que os moradores de Silves tivessem tomado conhecimento de sua vida “pecaminosa” no sítio furo da Sapucaia. Mas, após certificar-se de que ninguém em Silves sabia de sua verdadeira história, planejou um retorno honroso. Levaria consigo Clarinha.

CAPITULO XIII
Padre Antônio de Moraes deixou o sítio furo da Sapucaia em companhia de Felisberto, Clarinha e João Pimenta. O missionário planejou que Felisberto seria seu novo sacristão e Clarinha cuidaria de sua casa. “A princípio a Clarinha ficaria num sítio do rio Ramos, no Tucunduva, enquanto o senhor padre arranjasse casa e dispusesse tudo para a receber e agasalhar dignamente”.
Durante a viagem, Padre Antônio reencontra um velho conhecido de Silves, o capitão Fonseca, que ali estava negociando peixe salgado e cacau com uma velha tapuia, a tia Gertrudes, em companhia da qual provisoriamente ficaria Clarinha, conforme planejara o reverendo.
Agora comerciante, depois que perdera o emprego de coletor, o capitão Fonseca contou ao padre a história inverídica que o sacristão Macário havia contado aos moradores de Silves. O missionário chegou a rir da patranha do sacristão. Mas, para não incorrer em contradição, aproveitou essa história para montar a sua, também inverídica:
“Quando ouviu a história narrada pelo sacristão Macário, padre Antônio de Morais sentiu um vivo rubor subir-lhe ao rosto e afoguear-lhe o cérebro, perturbando-lhe a vista. Um grande embaraço o enleava, e não sabendo o que devia dizer, ouvia silencioso o capitão Mendes da Fonseca falar, numa voz que a custo, por fim, conseguira guardar a serenidade do principio, como se um vivo despeito o agitasse. Esse embaraço foi, porém, passageiro. Compreendeu de relance a gravidade da situação em que se achava, o perigo que corria em desmentir o astuto sacristão cuja inventiva o maravilhava, dando-lhe uma forte vontade de rir da história da cutia misteriosa. Era forçoso fazer o sacrifício da verdade ao plano que engendrara, cujo resultado dependia da completa ocultação da falta cometida e que devia ser sepultada em eterno silêncio. Quando o capitão acabou de falar, o padre, disfarçando com dificuldade a pungente emoção, sentindo a mentira queimar-lhe os lábios, na sensação física do remorso, explicou que o Macário se enganara, mas não mentira. E como se tivesse pressa de se ver livre daquele penoso sacrifício, selando com a mentira o mistério dos três meses passados à sombra das laranjeiras em flor no sítio do Sapucaia, acrescentou em palavras breves, que naturalmente o Macário o tivera por morto, mas que a verdade era outra. Levado pelos índios, desmaiado e malferido, fora entregue aos cuidados de um pajé que o curara com o suco de algumas plantas. Os selvagens o haviam poupado por lhe conhecerem o caráter sacerdotal pela batina e pelo chapéu de três bicos, e o tinham posto em liberdade, depois de algumas conversões que fizera. Que tendo passado três meses nas selvas, pregando o Evangelho, resolvera regressar à sede de sua paróquia, e que achando-se à margem do Abacaxis encontrara uma família de tapuios, avô, neto e neta, que lhe oferecera passagem até o Amazonas.”
Portanto, se o sacristão Macário fora salvo por uma misteriosa cutia que lhe roera as cordas com que os índios o amarraram, a salvação do Padre deu-se em virtude das vestimentas sacerdotais.
Ainda nesse capítulo, Inglês de Sousa faz uma crítica aos comerciantes, regatões, que exploram os pobres ribeirinhos do Amazonas, comprando-lhes produtos a preços muito baixos.
O capitão Fonseca colocou o padre a par da vida dos moradores da vila. E disse que seu regresso era necessário para moralizar aquele povoado em vias de perdição.
E falou ainda da notícia que foi publicada no periódico Diário do Grão-Pará, narrando as façanhas evangelizadoras do vigário de Silves, que fez com que o Padre Antônio de Moraes sonhasse com uma carreira eclesiástica gloriosa em Belém, cidade da qual fez lembrar-lhe o passado de rapazola recém-chegado na galeota do padrinho para tornar-se seminarista.
E assim fecha-se o capítulo final, tudo confluindo para Belém do Pará, cidade que, na origem, causou espanto ao jovem noviço Antônio de Moraes quando se dirigia ao seminário; e que agora, já padre famoso em virtude da fraudulenta notícia de catequizador de índios bravios, alimenta sua ambição eclesiástica, fazendo-lhe sonhar com recompensas episcopais e honrarias imperiais.

Prof. Welton Braga

A MORENINHA

Biografia do autor

Joaquim Manuel de Macedo, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820 e faleceu no Rio de janeiro,RJ, em 11 de abril de 1882.Formou-se em Medicina pela faculdade do Rio de Janeiro, clinicou algum tempo no interior do estado do Rio.No mesmo ano da formatura (1844) publicou A Moreninha, que lhe deu fama e constituiu uma pequena revolução literária inaugurando, inaugurando o romance nacional, pois foi o primeiro romance urbano do Brasil.Alguns estudiosos consideram que a heroína do livro é uma transposição da sua namorada e futura mulher, Maria Catarina de Abreu.Em 1849 , fundou com Gonçalves Dias a revista Guanabara, onde apareceu grande parte do seu poema – romance A nebulosa.

Abandonou a medicina e foi professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Era muito ligado à família Imperial, pois foi preceptor dos filhos da princesa Isabel.Militou no partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como provam seus discursos parlamentares.Foi deputado provincial e deputado geral ( 1864-68) Membro muito ativo do Instituto Histórico( desde 1845) e do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).Nos últimos anos de sua vida , sofreu de problemas mentais, vindo a falecer antes de completar 62 anos.

Obras principais - poesia: A Nebulosa, 1857 - romance: A Moreninha, 1844; O Moço Loiro, 2 vols., 1845; Os Dois Amores, 2 vols., 1848; Rosa, 1849; Vicentina, 1853; O Forasteiro, 3 vols., 1855; A Carteira de meu Tio, 2 vols., 1855; Os Romances da Semana, 1861; Memórias do Sobrinho do meu Tio, 1867; O Rio do Quarto, 1869; As Vítimas-Algozes, 1869; A Namoradeira, 1870; As Mulheres de Mantilha, 1870; Um Noivo e Duas Noivas, 1871; Memórias da Rua do Ouvidor, 1878 - teatro: O Cego, 1849; Cobé, 1852; O Fantasma Branco, 1856; O Primo da Califórnia, 1858; O Sacrifício de Isaac, 1859; Luxo e Vaidade, 1860; O Novo Otelo, 1863; Vingança por Vingança, 1877; Antonica da Silva, 1880; etc.

Características Literárias do autor

Autor do primeiro romance urbano do Romantismo brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo teve também o mérito de popularizar esse novo gênero entre os leitores, principalmente da classe média, além de contribuir para propagar de forma considerável a circulação dos folhetins, verdadeiros veículos literários do século XIX. Mais do que isso, a fidelidade com que o romancista descreve os ambientes e costumes serve como um verdadeiro documentário sobre a vida urbana na capital do Império. No entanto, Macedo pecou ao ter como único objetivo escrever seus romances para agradar a classe média brasileira, principal consumidora dos folhetins. Suas publicações seguem sempre a mesma fórmula empregada em A Moreninha, que o consagrou como um dos escritores mais lidos do Romantismo. Suas narrações e descrições, apesar de possuírem uma linguagem muitas vezes bem elaborada, perde em muito para o lirismo encontrado nas obras de José de Alencar. Suas personagens são sempre superficiais, com diálogos construídos numa linguagem simples. Não possuem uma penetração psicológica. O enredo sempre gira em torno dos mesmos temas: amores impossíveis, dúvidas e segredos, namoricos, festas, brincadeiras estudantis, entre outros. Tudo é recheado por um tom doméstico, onde todas as tramas sempre convergem para um final feliz.

Resumo da obra A Moreninha

Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando quando o estudante de medicina, Filipe, convida seus colegas para uma comemoração na ilha de Paquetá, onde mora sua avó, D. Ana, uma senhora muito simpática de 60anos.Os estudantes aceitam o convite com entusiasmo, exceto Augusto, Filipe, para atraí-lo à ilha, faz referência ao baile de domingo, em que estarão presentes suas primas: a pálida, Joana, de 17 anos, Joaquina, loira de 16 e sua irmã, D.Carolina, uma moreninha de 15. Isso resulta numa discussão e dá origem a uma aposta: Filipe desafia Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse por uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a escrever um romance sobre sua história.

Após quatro dias, Augusto recebeu uma carta, entregue por seu empregado Rafael, amando de Fabrício.A carta dizia que o namoro de Fabrício com D. Joaninha não estava indo muito bem, pois ela era muito exigente, ele então pede ajuda a Augusto para se livrar da namorada: “Eis aqui , Augusto, o lamentável estado em que me acho.Lembra-te que foram teus conselhos que me obrigaram a experimentar uma paixão romântica, portanto , não só por amizade, como por dever, conto que me ajudarás no que te vou propor, eu preciso de um pretexto mais ou menos razoável para descartar-me da tal “pálida”. (p.26). O desejo de Fabrício é que durante a estada em Paquetá, Augusto a conquistasse e Fabrício, fingindo ciúmes, terminaria o namoro com ela.

Na manhã de sábado, Augusto se encontra com seus amigos na ilha. Entra na casa, se dirige à sala onde se apresenta, em seguida vai procurar um lugar para sentar perto das moças. Observa detalhadamente cada mocinha que está na sala, porém não consegue observar detalhadamente uma: trata-se de Carolina, a moreninha. A imagem que Augusto teve dela foi a seguinte: “O nosso estudante não pode dizer com precisão nem o que ela é, nem o que não é: acha-a imprudente, caprichosa e mesmo feia, e pretende trata-la com seriedade e estudo, para nem desgostar a dona da casa, nem se sujeitar a sofrer as impertinências e travessuras que a todo momento a vê praticar com os outro...”(p.29). Augusto não encontra um lugar para sentar perto das moças e acaba sentando perto de D. Violante, uma senhora , já viúva, que lhe oferece um assento. Ela por várias horas fala de suas doenças e Augusto já irritado de ouvir tantas reclamações, fala que ela sofre apenas de hemorróidas.D.Violante se irrita, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam.Fabrício chega interrompendo a conversa e chama Augusto para um diálogo em particular.Os dois começam a discutir sobre a carta , pois Augusto afirma que não pretende ajudá-lo em seu namoro com D.Joaninha.Fabrício declara guerra a Augusto.Logo após a discussão, chega Filipe chamando-os para o jantar..Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começa a falar em tom alto sobre a inconstância amorosa de Augusto.Ele,por sua vez não responde as provocações, mas na tentativa de se defender, acaba agravando mais a sua situação perante todos.

Após o jantar,todos passeiam no jardim e Augusto é isolado por todas as moças.Apenas D. Ana aceita passear com ele.Augusto tenta dar explicações à D.Ana, mas prefere ir a um lugar mais reservado, ela sugere então que fossem até uma gruta, onde sentam num banco de relva.Começam a conversar e Augusto conta a D.Ana que seu coração já tem dona, uma menina que , por acaso encontrou numa praia, quando ele tinha treze anos. Explica que nesse dia, eles auxiliaram a família de um pobre moribundo que lhes dá um breve como sinal de eterno amor: o da menina contem o camafeu de Augusto e o dele o botão de esmeralda da garota.O rapaz não a esquece e como não sabe seu nome, passa a tratá-la por minha mulher.

Acabada a história, Augusto levanta-se para tomar água. Ao pegar um copo de água é interrompido por D.Ana que resolve contar a história da gruta, que consiste na lenda de uma moça que se apaixonara por um índio que não a amava e de tanto ela chorar deu origem a uma fonte, cuja água era encantada.Conta também que quem bebesse daquela água teria o poder de adivinhar os sentimentos alheios e não sairia da ilha sem se apaixonar por alguém. D. Ana explica que a moça cantava uma canção muito bela quando de repente eles escutam uma linda voz.Augusto pergunta a D. Ana de onde vinha aquela melodia e ela explica que era Carolina que cantava sobre a pedra da gruta e ele fica encantado.

Logo após o passeio, todos tomam café e a moreninha derrama o café de Fabrício sobre o Augusto.Ele vai se trocar no gabinete masculino quando Filipe sugere que ele se troque no gabinete feminino para ver como é.

Augusto aceita e enquanto se troca, ouve as vozes das moças que iam em direção ao gabinete.Apavorado, pega rapidamente suas roupas e se enfia debaixo de uma cama.As moças entram, sentam-se e começam a conversar sobre assuntos particulares.O rapaz ouve toda a conversa e quase não resiste ao ver pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente.De repente, ouvem um grito e Joaninha fala que a voz parece com a de sua prima D. Carolina.Todos correm para ver o que está acontecendo e Augusto aproveita para terminar de se trocar e sai do gabinete para ver a causa daquele grito.O grito era da Moreninha que viu sua ama Paula caída no chão, devido alguns goles de vinho que tomara junto do alemão Kleberc.Carolina não quer acreditar que sua ama estivesse bêbada e levam-na para o quarto. A moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício entram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começam a dar diagnósticos absurdos.Carolina só acredita em Augusto e não aceita o verdadeiro motivo do mal–estar de sua ama.

Todos saem do quarto e se dirigem até o salão de jogos. Augusto vai conversar com D. Ana e pergunta sobre o paradeiro da moreninha.A senhora avisa que a moça está no quarto cuidando se sua ama.Augusto vai até o aposento e vê uma cena inesquecível: D. Carolina lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele comovido se oferece para ajudá-la.Deixam a ama repousar e Carolina vai se trocar para ir ao sarau, coloca um vestido muito bonito,mas fora dos padrões normais,pois mostra parte da suas pernas .Todos querem dançar com ela e Fabrício pede a terceira dança,mas a garota mente dizendo que ira dançar com Augusto, este por sua vez dança e jura amor eterno a todas as moças , inclusive para a moreninha.No fim da festa, Augusto encontra um bilhete no paletó, dizendo para ir à gruta num certo horário,o bilhete logo dizia : “ Senhor, uma jovem que vos ama e que de vós escutou palavras de ternura, tem um segredo a confiar-vos.Ao raiar da aurora a encontrareis no banco de relva da gruta, sede circunspecto e vereis a quem, por meia hora ainda , quer ser apenas uma incógnita”. (p.105) .E logo após encontra outro, que o avisa se tratar aquilo de uma armadilha : “Senhor: - Uma moça , que nem é bonita nem namorada, mas que quer interessar-se por vós, entende que deve prevenir-vos que no banco de relva da gruta não achareis ao amanhecer uma incógnita, porém sim conhecidas que pretendem zombar de vós, porque esta mesma noite jurastes amar a cada uma delas em particular.Não procureis adivinhar quem vos escreve, porque apesar de ser vossa amiga, serei por agora -uma incógnita.” (p.106)

No dia seguinte, o estudante vai até a gruta no horário marcado e encontra as quatro jovens e antes que elas possam falar são surpreendidas pelo rapaz que conta o que ouvira no gabinete.As moças ficam revoltadas e depois de irem embora Augusto é surpreendido pela moreninha que começa a contar a conversa dele com D. Ana, mas primeiro ela bebe um copo da água da fonte encantada, logo após o susto, ele declara-se a ela.

Chega a hora da despedida,Augusto não consegue pensar em outra coisa senão em Carolina .Recorda-se da meiguice dela, quando lavava os pés da escrava. Retorna no domingo para vê-la , e continua com seus galanteios:

-Eu não perguntei a quem o senhor amava.

-Quer que lhe diga?

-Eu não pergunto.

-Posso eu faze-lo?

-Não.. não lho impeço.

- É a senhora.

Dona Carolina fez-se cor de rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar, forcejando um sorriso:

-Por quantos dias?

- Oh! para sempre... e a senhora não me revela o nome do feliz?

-Eu não, não posso...

-Mas por que não pode?

-Porque não devo.

- E nunca dirá?

- Talvez um dia.... quando estiver certa que ele não me ilude. (p.134)

O pai de Augusto, ao visitá-lo, resolve impedir o retorno dele à ilha, quer vê-lo estudando e tranca-o no quarto.

Augusto fica tão abatido, que durante uma semana não consegue deixar o leito, sendo necessária a presença de um médico. Na ilha ,a moreninha se desespera até saber que o rapaz estava doente. No domingo, coloca-se no rochedo, esperando o barco, enquanto canta a balada da índia Ahy e seu amor pelo índio Aiotin.O pai de Augusto, vendo que estava prestes a perder o filho, acha melhor que ele vá pedir a mão da moreninha em casamento. Ao chegar próximo à ilha, vêem a moreninha cantando sobre a pedra , e ela ao vê-los, ignora-os. D. Ana vai recebê-los e o pai de Augusto explica toda a situação e em seguida faz o pedido diretamente a moreninha, quando esta já está na sala, pois seu filho não é corajoso suficiente. A moça fica assustada e fala que dará a resposta mais tarde na gruta. Augusto, ansioso, vai até a gruta e a encontra, os dois conversam e ela pergunta se ele ainda ama a menina da praia.Ele responde que não, que seu amor pertence somente a ela. Ela diz que não poderá se casar pois ele já é comprometido com outra.Irritado, ao sair da gruta, é surpreendido quando ela lhe mostra o breve verde. Augusto não agüenta a emoção e pegando o breve se ajoelha aos pés da donzela reconhecendo o seu camafeu. O pai de Augusto e D. Ana entram na gruta e não entendem o que está acontecendo e Augusto diz que encontrou sua mulher e a moreninha diz que eles são velhos conhecidos.

Filipe, Leopoldo e Fabrício podem ver a alegria do novo casal,mas Felipe vai logo dizendo que já se passara um mês, e que Augusto perdeu a aposta e deveria escrever um romance. Ele surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se intitulava A Moreninha:

-Estamos no dia 20 de agosto: um mês!

-É verdade! Um mês! exclamou Felipe.

-Um mês! Gritaram Fabrício e Leopoldo.

-Eu não entendo isto! Disse a senhora D.Ana

-Minha boa vó, exclamou Felipe, isto quer dizer que Augusto deve-me um romance.

-Já está pronto, respondeu o noivo.

-Como se intitula?

-A Moreninha. (p.156)

Questões da obra A moreninha

Leia o fragmento e responda:

Chegou o sábado. O nosso Augusto , depois de muitos rodeios e cerimônias pediu finalmente licença para ir passar o domingo na ilha de ... e obteve em resposta um não redondo, jurou que tinha dado sua palavra de honra de lá se achar nesse dia e o pai, para que o filho não cumprisse a palavra nem faltasse à honra, julgou muito conveniente trancá-lo no seu quarto.

Mania antiga é essa de querer triunfar das paixões com fortes meios erro palmar, principalmente no caso em que se acha o nosso estudante, o amor é um menino doidinho e malcriado que , quando alguém intenta refreá-lo , chora, esperneia, escabuja, morde, belisca e incomoda mais que solto e livre, prudente é facilitar-lhe o que deseja para que ele disso se desgoste... amor é um anzol que ,quando se engole, agadanha-se logo no coração da gente, donde se não é com jeito destravado, por mais força que se faça mais o maldito rasga, esburaca e se aprofunda... aqui o nosso estudante foi às nuvens , saltou exasperado fora do leito em que se achava deitado, passeou a largos passos experimentou se podia arrombar a porta ,fez mil planos de fuga , esbravejou, escabelou-se e como nada disso lhe valesse, atirou com todos os seus livros para baixo da cama e deitou-se de novo, jurando que não havia de estudar dois meses.

( A moreninha, fragmento,p.252)


Atividade


1- A escola literária da obra em questão é :

a- Realismo

b- Arcadismo

c- Modernismo

d- Romantismo


2- A protagonista da obra é

a- Joaninha

b- Clementina

c- Quinquinha

d- Carolina


3- São características da escola literária que corresponde ao livro:

a- A materialização do amor

b- O determinismo

c- A idealização da mulher

d- A objetividade dos fatos


4- No fragmento escolhido “o amor é um menino doidinho e malcriado que , quando alguém intenta refreá-lo , chora, esperneia, escabuja, e no outro “... amor é um anzol que ,quando se engole, agadanha-se logo no coração da gente... temos uma figura de linguagem chamada :

a) metonímia

b) personificação

c) metáfora

d) antítese


5- Na oração “saltou exasperado fora do leito em que se achava deitado, passeou a largos passos experimentou se podia arrombar a porta ,fez mil planos de fuga , esbravejou...” o significado dos termos grifados respectivamente é:

a- irritado , gritou

b- enfurecido, pediu

c- encolerizado, domesticou

d- bravo; admirou


6- Marque a alternativa incorreta no que diz respeito ao fragmento analisado:

a- Vemos no trecho a concepção de amor idealizado, intenso, que exerce poder absoluto.

b- O narrador deixa claro que tentar vencer o amor por meio da força é um grave erro, principalmente no estado que Augusto se encontra.

c- O pai não se preocupa em preservar a honra do filho, pois este não eraum valor importante para a época.

d- A atitude de Augusto é semelhante a de uma criança impedida de fazer o que se deseja, esperneia, esbraveja e tenta fugir.


7- (UFPE/2009) O movimento Romântico contribuiu para as mudanças no mundo cultural do século XIX, fazendo contraponto com muitas idéias do cientificismo da época. No Brasil, o Romantismo:

A) diferiu bastante das manifestações européias, sendo marcado pela originalidade de seus poetas e filósofos.

B) se firmou mais no campo das manifestações literárias,embora não tivesse relações com temáticas nacionalistas.

C) buscou exaltar o amor e a libertação da mulher, embora não tenha contribuído para o culto a feitos heróicos.

D) teve autores importantes na literatura, muitos deles preocupados, em suas obras, com a questão da nacionalidade.

E) incorporou idéias de Rousseau na produção de seus autores, embora as obras desses autores não tenham tido maiores repercussões.


08. (ARL) Sobre o contexto histórico-literário da obra “A Moreninha” e seu autor, analise as afirmações a seguir.

I. Joaquim Manuel de Macedo foi o primeiro romancista a alcançar sucesso junto ao novo público romântico formado por jovens senhoras e estudantes.

II. O contexto da publicação da obra revela um Rio de Janeiro imperial e seus costumes urbanos.

III. A burguesia mantém-se como personagem e consumidor dos romances românticos, fato esse herdado da estética literária anterior.

Quais são corretas?

A) Apenas I

.B Apenas I e II.

C) Apenas II e III.

D) Apenas I e III.

E ) I, II e III.


09 (ARL) Marque V (verdadeiro) ou F (falso) sobre o romance urbano “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo.

( ) Os eventos narrados desenrolam-se durante os trinta dias pelos quais a aposta era válida. A aposta foi feita em 20 de julho de 18... uma segunda-feira, e termina no dia do pedido de casamento, 20 de agosto do mesmo ano.

( ) Quando a história se inicia, Augusto está no quinto ano de Medicina e conquistara, entre os amigos, a fama de inconstante.

( ) Nos capítulos VII e VIII, o autor conta-nos a origem da instabilidade amorosa do herói. Tudo começara há oito anos, quando Augusto contava 13, e Carolina 7 ou 8 anos

de idade.

( ) O foco narrativo é de 1ª pessoa, pois é Augusto que conta a história após a perda da aposta feita com Fabrício.

A seqüência correta é:

A) V V V F

B) V V F F

C) F F F F

D) V F V V

E) F V F V


10- (UFPI) Sobre o romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, leia o trecho reproduzido e responda à questão seguinte.

Entre os rapazes, porém, há um que não está absolutamente satisfeito: é Augusto. Será porque no tal jogo da palhinha tem por vezes ficado viúvo?... não! ele esperava isso como castigo da sua inconstância. A causa é outra: a alma da ilha de ... não está na sala! Augusto vê o jogo ir seguindo o seu caminho muito em ordem; não se rasgou ainda nenhum lenço, Filipe ainda não gritou com a dor de nenhum beliscão, tudo se faz em regra e muito direito; a travessa, a inquieta, a buliçosa, a tentaçãozinha não está aí: D. Carolina está ausente!...

Com efeito, Augusto, sem amar D. Carolina, (ele assim o pensa) já faz dela idéia absolutamente diversa da que fazia ainda há poucas horas. Agora, segundo ele, a interessante Moreninha é, na verdade, travessa, mas a cada travessura ajunta tanta graça, que tudo se lhe perdoa. D. Carolina é o prazer em ebulição; se é inquieta e buliçosa, está em sê-lo a sua maior graça; aquele rosto moreno, vivo e delicado, aquele corpinho, ligeiro como abelha, perderia metade do que vale, se não estivesse em contínua agitação. O beija-flor nunca se mostra tão belo como quando se pendura na mais tênue flor e voeja nos ares; D. Carolina é um beija-flor completo.”

MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. L&PM: Porto Alegre, 2001.p. 123-124.


10- . A única alternativa incorreta sobre a obra e o trecho lidos é:

A) O cotidiano burguês do século XIX é apresentado em diversos capítulos, detalhando os hábitos e costumes da época.

B) A comparação de D. Carolina a um beija-flor é um recurso estilístico próprio do Romantismo, e serve para enfatizar o caráter idealizador sobre a figura feminina.

C) A inquietação de Augusto é causada pela ausência de D. Carolina, e não pelo fato de o jogo estar monótono.

D) Augusto começa a enxergar a jovem D. Carolina como uma mulher sedutora e extravagante, após alguns dias devidamente instalado na ilha de...

E) A obra sugere, em seu final, que o romance é resultado da derrota de Augusto

na aposta realizada com seu amigo Filipe.