(Herculano Marcos Inglês de Sousa)
A obra O Missionário tem início com a angústia do sacristão Macário quanto à chegada do Padre Antônio de Morais ao vilarejo de Silves. Macário tomou para si a função de diretor da recepção do novo pároco. E se sentia importante com isso. Um homem como ele, que a vida inteira fora nada, agora recepcionava o novo padre, o reverendíssimo que substituiria padre José. Agora ele era o Ilmo Senhor Macário de Miranda Vale, as pessoas grandes falavam com ele. Estava liberto de um passado humilhante.Ia dar conselhos a sua Reverendíssima, arranjar-lhe a vida, guiá-lo, enfim, mandar no senhor vigário. Nisso, recordava-se do nada de onde saíra. Pai, não conhecera. A mãe, uma lavadeira qualquer que se unia e um sargento bruto do corpo policial de Manaus. Apanhava dos dois. Lembrava de como fora parar em Silves a mando do reitor da escola de padres para servir como “sacristão” ao finado padre José, um extravagante que passava meses no lago, tocando violão e namorando as caboclas dos arredores...p.17. De onde sua mesa era farta e alegre, foi perfeito para o Macário. Da parte do padre e do povo, havia a mais pura desconsideração. Queria ser alguém, era vaidoso, mas não conseguia subir. O vapor da companhia do Amazonas chegara. A vila se enfeitava toda, era um acontecimento. O juiz, os vereadores, os comerciantes, todos acorriam para cumprimentar o novo padre.Macário, importante, os apresentava. A população imediatamente gostou do novo pároco,pois ficaram sabendo que Antônio de Morais escolhera ir para Silves em vez de ir para a paróquia vizinha.
O narrador, dotado de onisciência múltipla, típica da obra naturalista, agora nos apresenta e analisa o Padre Antônio de Morais, que repassa por sua mente todos os fatos e pessoas e pessoas do dia. Macário (o sacristão), Tenente Valadão (subdelegado), Capitão Manuel Mendes (coletor de rendas), João Pedreira das neves Barriga (Presidente da Câmara), José Antônio pereira (escrivão), João Carlos (vereador), Aníbal Americano Selvagem Brasileiro (professor), Joaquim da Costa e Silva (dono de um empório), etc. Apresentaram-lhe depois a igreja, um templo modesto e em decomposição. A miséria do lugar e das vestes do padre anterior eram a prova do cabal relaxamento. Detestava a idéia de usar aquelas roupas, o mesmo cálice e outros apetrechos de missa. Teve nojo. Mandaria buscar tudo de novo em Belém, capital do Grão-Pará. Almoçou na casa da câmara. Comeu sem cerimônia. Em seguida, mostraram-lhe a casa onde ficaria alojado. Em frente, morava uma tal Luisa Madeirense, que lavava e engomava pra fora, inclusive para o antigo vigário. Lembrou-se do pai, o Capitão Pedro Ribeiro de Morais, pequeno fazendeiro de igarapé-mirim, que perdera tudo que tinha em jornais. A mãe, D. Brasília, nulificada e submissa sempre estivera do seu lado. O menino crescia sem perspectiva de futuro. Por ordem do padrinho, um comandante superior, dera a idéia de mandá-lo para o seminário.
O terceiro capítulo nos apresenta o prof. Francisco Fidêncio, homem com problemas hepáticos, que vivia “amigado” com uma mulata ainda nova de nome Maria Miquelina e não fazia nada para não dar nas vistas do povo aquela mancebia. Professor de latim, “carioca da gema”, perseguia os alunos ruins e era um tipo de “ídolo” para os mais desasnados, embora “dar bons exemplos” não fosse o seu forte. Membro ativo da Maçonaria, não ia muito com a conversa dos padres. Macário, naquele dia, em alegre ansiedade, ajeitava as coisas da matriz. Acendia velas no altar, organizava os apetrechos da missa com ajuda do sineiro José do lago. Era um dia especial: Casamento de rico.Mas cada vez mais vazia.Os meninos já gazeavam as aulas de catecismo. Muitas mulheres, antes tão devotas, não queriam mais se confessar. Padre Antônio sentia aquele retraimento e andava pensativo. O casamento que haveria logo era uma boa ocasião para chamá-lo à responsabilidade. Tudo aquilo devia Sr obra do Chico Fidêrico ou, no fundo, aquela gente, principalmente os “grados”, queria mesmo era um vigário como o Padre João da Mata que, segundo diziam, morreu na Sapucaia “nos braços de uma mameluca linda como o sol”. Chegara o tempo da colheita das castanhas. Ir para os castanhais era o assunto da Cidade. Havia uma certa euforia porque nos castanhais tinha de tudo (festa, dança, comida, sexo, etc.) “tolo seria quem ficasse em silves a papar missas, quando podia fazer fortuna com o trabalho de levantar castanhas do chão” p.77. Padre Antônio estava descontente com aquilo. Tinha bolado um plano e contara-o ao sacristão. Aquela não seria uma missa comum. Celebrava-se o casamento de Cazuza Bernardinho com a sobrinha do Neves Barriga. Feita a união, entrou o padre num ouvido. Todos os mais importantes da cidade estavam ali. Até o Chico Fidêncio, escondido na entrada, ouvia o sermão e temia com o poder da oratória de Padre Antônio de Morais. À noite apenas o Macário foi à festa do casamento e lá, humilhado na sua pobreza interior, mendigava atenção e uma xícara de chocolate. A festa foi altas horas. Compareceram, além dos país, já conhecidos, os filhos, a nova geração inútil de Silves.Totônio Bernardinho, (irmão do noivo, estudava no Pará era boêmio e , Pedrinho Sousa (amigo do Totônio). Na festa, engatou-se o namoro de D. Milu com o Totônio. Os pais não concordaram. Separados no fim da noite, o rapaz meteu-se num quarto chorando.. O Fidêncio teve a idéia de espalhar para todos que o Padre Antônio era um “acomodado”, levava uma vidinha calma em Silves, como os outros padres. Não teria jamais a coragem de pregar nas matas, de virar missionário e sair para catequizar os índios. Isso sim é que era ser padre. Seu plano deu certo. Antônio de Morais passou a avaliar a sua estada em silves. Percebia que nada fizera e que ali, principalmente, não prestaria um grande serviço à igreja. Aquela gente não precisava dele. Aquele lugar era nada diante da glória de ser missionário, como Anchieta. Nessa hora, sua ambição e sua vaidade é que falavam. Pensou em sair de silves, ser reconhecido, ser mandado para a matriz de Belém...isso! sairia em missão para catequizar índios selvagens e antropófagos de Mundurucânia,lugar mais hostil daquela região. Chamou o Macário e deu-lhe a notícia. O sacristão ficou aterrorizado, pois sabia que os mundurucus eram perigosos. Começou a cuidar da missão. Precisava arranjar remadores para a canoa (igaraté). Aos poucos, ia cuidando, mas cada vez que falava a alguém, branco ou tapuio, sobre a viagem, aos mundurucus, o indivíduo desconversava e desaparecia. Um belo dia, surgiu-lhe na igreja o jovem Totônio Bernardinho dizendo que remaria a canoa para o padre. Macário quis saber por quê. O jovem contou-lhe a sua desdita amorosa. Os pais não queriam o seu namoro com Milu. Ela nada podia fazer. Por não ver saída, então decidira morrer. Mas, como “romântico” queria morrer sem glória. Morreria fazendo algo corajoso. Morreria ajudando a igreja. Padre Antônio não aceitou. Restou ao Macário enganar dois tapuios (João e Pedro) acertando o “serviço” sem dizer para onde iriam. A missão estava cada vez mais próxima.Nos capítulos VII e VII, tem início a grande missão. Eram quatro horas da manhã quando a igaraté sumiu-se na neblina saindo de silves em direção ao Munducuru. Padre Antônio de Morais, sentado na borda da canoa , via a matriz desaparecer de longe. Adiante, o rio surgindo imenso. Três dias de viagem pelo rio Abacaxis/Guarajatuba e saiam do Paraná-mirim para entrar na Amazonas. À noite, no Corumã, encontraram o sítio do ribeirinho Guilherme e sua esposa Tereza. Antes prosseguiu com todas as dificuldades. A ração pouca, bananas e pirarucus. O padre pouco comia.. A iminência de serem atacados pelos índios ferozes aterrorizava Macário. Que decidiu fugir. Padre Antônio de Morais ajoelhou-se diante dos índios e, em agonia, olhando para o céu, esperou violento que lhe tiraria a vida. Macário contara uma história mirabolante para “Aliviar” a sua covardia de ter ocorrido e deixado o padre para trás. Conseguira fugir pelo rio. Depois, no sitio do Guilherme, onde, conseguira uma canoa e chegara a remo. Descendo o Carumã e o Sacará, chegara ileso ao porto de Silves. Mas, mentiroso como era, aumentou ainda seu heroísmo dizendo que fora aprisionado para ser devorado enquanto os índios levaram o padre para ser comido dentro da floresta.sua salvação, dizia, foi uma cutia que roera as cordas de sua mão e ele se libertara. Fugiu rapidamente, lamentando a sorte de padre Antônio. Agora estava ali, um verdadeiro herói, pois enfrentara índios ferozes, maués, mundurucus ou Parintins. Deixou desses pensamentos e foi ajudar no enterro, pois a paróquia já não tinha padre, então não podia faltar no cemitério, a um canto, Chico Fidêncio chamou o Macário e mostrou-lhe um texto que mandaria para o jornal “Democrata” reabilitando a imagem do padre Antônio de Morais e sua corajosa missão. Macário leu e concordou com letra.
No capitulo X, finalmente, temos notícias do Padre Antônio de Morais. O texto começa com mameluco Felisberto abrindo a porta do quarto e perguntando se ele estava melhor. Isso o fez tornar a si lembrar o que de fato, lhe acontecera. Lembra que,de joelhos, em prece, olhando para o céu aguardava o golpe que lhe tiraria a vida, enquanto Macário fugia pelo rio. Mas os dois índios que se aproximavam, de arma em punho, estavam apenas cortando mato para chegarem até ele, pois,assustados também, achavam que ele fosse a alma do finado padre João da Mata, vigário de Maués. Não sabia por que, mas desmaiara. Agora, recuperado, via tudo com maior lucidez. Os índios eram Felisberto e seu avó, João pimenta . Enfim, gente simples e boa que vivia ali, na Sapucaia, escapando às privações e influência da cidade. O lugar era simplesmente maravilhoso, entre as matas e rios, justificando o isolamento do padre João da Mata naquelas profundezas selvagens. Havia também uma mameluca chamada Clarinha, quem o padre não tinha observado direito, mas parecia muito meiga com ele e com o avô, o João Pimenta. O Felisberto dizia pelos cantos que Clarinha tinha uma “queda” por sua Revma. Isso o irritava mais ainda. Aos poucos, porém, a figura de Clarinha passava a interessá-lo, pois como podia aquela moça branca e bonita no meio daquela mata? Soube que ela era filha de Benedita, uma bela moça de vinte anos quando se relacionou com Padre João. Dessa relação nasceu Clarinha, que, bela como a mãe, passou a ser protegida pelo padre, ou melhor, pelo pai, o safado da mata, e ninguém nem imaginava...aquele romance sacrílego atraía-o poderosamente, tanto o que lhe contaram quanto o que “estava acontecer”, pois o “inimigo do gênero humano levava-o ao desregramento da vida de Ministro de fé. Sentia um prazer estranho, uma volúpia...pensava no atrativo que prendera o padre João da mata no sítio da Sapucaia. Pensava em Clarinha, na sua beleza, nas suas formas.No dia seguinte, ao encontrar a neta do João Pimenta arrumado-lhe a cama, não se conteve e disse-lhe o que sentia. Ignorou sua metade “padre” e entregou como “homem” ao sentimento. A moça ouvi-lhe nervosa e em silêncio. Sentia o mesmo. Mas novamente o Felisberto atrapalhou-os abrindo a porta. Fez cara de cínico e saiu rindo. Depois disso, a crise de Padre Antônio passou a ser muito maior. No auge dessa excitação, foi passear na mata. Lá, encontrou a Clarinha e não se controlou. No capitulo XII, quando o Felisberto voltou de Maués trouxe consigo a pior notícia que poderia ser dada ao padre Antônio de Morais, naqueles três meses de tanto prazer. A verdade é que padre Antônio andara esquecido do mundo. Passeava sempre com Clarinha. Tomavam banho no rio, viam, juntos, o pôr-do-sol, deitavam-se na rede do alpendre com a cumplicidade do ignorante Felisberto e a indiferença do João Pimenta.. Mas aquela notícia trouxe o padre de volta à realidade. Felisberto havia encontrado em Maués o Costa e Silva, que lhe falara da morte do corajoso padre Antônio de morais na luta contra os mundurucus. Teria o Felisberto contando tudo ao Costa e Silva? Será que já sabiam em Silves da vida “prazerosa” que levava na Sapucaia.Sabia que era impossível abandonar Clarinha. Outra luta se travou entre o amor e a ambição. Agora era impossível deixá-la. Dilema terrível. Não sabia o que fazer. Cobriu o rosto com o lençol largamente, um choro de criança contrariada. E foi a própria rapariga, que estava deitada com ele, que resolveu o problema ao segredar-lhe ao ouvido:- Levas-me contigo? E assim foi feito.
No último capítulo, dá-se o regresso. Durante três dias do mês de dezembro, debaixo de sol forte, desceram o rio Abacaxis até o sítio do Tucunduva. Eram três horas da tarde. Os quatro, Clarinha, Felisberto, João Pimenta e Padre Antônio saíram da Sapucaia como se fossem numa viagem de passeio. Lá ficara apenas a negra Faustina, cuidando do sítio. Felisberto era o mais empolgado, pois sonhava com o posto de sacristão. Clarinha era a mais feliz, pois com o intuito de levá-la para “trabalhar” para ele, e lavando-lhe a roupa e cuidando da casa, o padre conseguira convencer o avô da menina a ir junto. Resumindo, unia-se o útil ao agradável. .Nesses pensamentos, entraram na Tucunduva, no sítio da bailarina Gertudes, e lá o padre deu de cara com o Capitão Fonseca, o coletor de impostos em pessoa. Deram-se as explicações. Soube que toda a gente da vila dera como certa a morte de Padre Antônio graças ao que lhe dissera o sacristão, único sobrevivente da “chacina”. Padre Antônio, depois de ouvir a mirabolante “história da cutia”, disse apenas que tinha sido “mais ou menos” daquele jeito. Depois de dar-lhe um jornal onde o nome de padre Antônio fora estampado como herói, Fonseca pediu que voltasse logo a Silves, pois só ele poderia salvar aquela gente da perdição. Sem muito custo, convenceu Gertrudes a hospedar Clarinha por uns tempos enquanto ele voltava de Silves para buscá-la. A menina não gostou muito, mas não havia muito que fazer. Amava-o de qualquer maneira. Faltava agora arranjar um lugar para deixar o tagarela do Felisberto, talvez em algum sítio do Paraná-mirim. Chegaria a Silves apenas com o velho índio. Seria grande o rebuliço na cidade. Logo o navio voltaria a Silves para saber das glórias de padre Antônio sendo agradado pelo Bispo Justiceiro do Grão-Pará, que lhe daria, com certeza, um importante cargo.
Questões sobre a obra O missionário
1-O protagonista da trama é:
a- Amaro
b- Diogo
c- Macário
d- Antonio de Moraes
2- São personagens da trama, exceto :
a- João pimenta
b- Manuel da Fonseca
c- Raimundo
d- Pedro Ribeiro de Morais
3- Outros escritores que pertencem a mesma escola literária de Inglês de Sousa:
a- Adolfo Caminha
b- Domingos Olímpio,
c- Bernardo Guimarães
d- Júlio Ribeiro
4- no trecho : “da outra banda do igarapé, vinha um cheiro forte de baunilha e de cumari, que misturando-se à exalação das flores das laranjeiras do terreiro formava um perfume afrodisíaco que entrava pelas portas dentro e lhe subia ao cérebro, para o embriagar e tirar-lhe o último lampejo de razão que o esclarecia na luta travada com a sua carne desejosa e virgem .”
No trecho temos a figura de linguagem chamada:
a- metonímia
b- metáfora
c- sinestesia
d- antítese
a- Rosinha
b- Forzinha
c- Milu
d- Clarinha
6- Analise as afirmativas a seguir:
I - o prof. Francisco Fidêncio, homem com problemas hepáticos, que vivia “amigado” com uma mulata ainda nova de nome Maria Miquelina.
II- Macário é o sacristão comilão que usa o chamado “ macavelismo”, um meio astucioso de tudo fazer e dizer sem ferir de frente as convenções e a verdade, sem desmoralizar-se e sem pecar”.
III- Felisberto e João Pimenta não aceitaram o relacionamento de Clarinha com o padre Antonio de Moraes, o que resultou na fuga dos dois do Sítio da Sapucaia.
Estão corretas as alternativas :
a- somente a I.
b- somente a III
c- A alternativa I e II
d- Nenhuma das alternativas.
7- O narrador do romance é:
a- observador
b-autodiegético
c-heterodiegético
d-homodiegético
8-A jovem de quinzes anos com quem o padre passa a viver maritalmente era neta e irmã, respectivamente, de:
a) João Pimenta e Felisberto;b) Bernardino e D. Dinildes;
c) Macário e Luísa madeirense;
d) Bernardino e D. Dinildes.
9- “ Morrer pelo amor duma mulher! E morrer amado! Moço
,elegante, instruído, pertencendo a uma boa família, renunciar à vida,
deixar-se apanhar estupidamente por uma tísica ou coisa que o valha , só porque
o papai não consentiu no casamento com uma matutinha do Urubus, era por demais
inexplicável.” P.180No
trecho acima há uma crítica ao:
a) Modernismo
b) Realismo
c) Romantismo
d) Barroco
10-No trecho “Nos sertões do Amazonas, numa sociedade
quase rudimentar, sem moral, nem educação... vivendo no meio da mais completa
liberdade de costumes, sem a coação da opinião pública, sem a disciplina duma
autoridade espiritual fortemente constituída... sem estímulos e sem apoio...
devia cair na regra geral dos seus colegas de sacerdócio, sob a influência
enervante e corruptora do isolamento e entregara-se ao vício e à depravação, perdendo o senso
moral e rebaixando-se ao nível dos indivíduos que fora chamado
a dirigir”.p.219
No trecho da obra
temos exemplo do:
a)
Zoomorfismo
b) Psicologismo
c)Determinismo
d)Detalhismo

Ótimos exercícios, parabéns! Só faltou o gabarito.
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